Fique de Olho: A lenda do ‘Cigano’ reúne atrações e resgate cultural em Ibitinga neste sábado (27)

A 'Lenda do Cigano' faz parte do folclore e da cultura ibitinguense. Pensando neste resgate cultural, a Prefeitura, com o apoio e organização do ‘Coletivo Multiverso’, realiza neste sábado (27), na Praça do Largo São Benedito, um monte de atrações legais.
As atividades envolvem um passeio cultural com saída às 16h da Praça São Benedito, com destino à Cruz do Cigano, onde serão feitas apresentações da lenda e de dança cigana. A partir das 19h, de volta na praça, haverá feirinha de artesanato, cartomante, comidinhas e espetáculo do grupo 'Nosso Flamenco' trazido pelo Circuito SP.
O evento será gratuito e no local será feita arrecadação de livros para a gelateca do Coletivo Multiversos, bem como caixas de leite para entidades beneficentes.
O lendário Cigano forasteiro em Ibitinga
De Itálico Sebastião Moreale
Em 1.842, as províncias de Minas e de São Paulo foram historicamente marcadas pela “Revolução Liberal”. Esta é uma das teorias dos historiadores para explicarem a migração de famílias inteiras, desbravando as mais longínquas terras do interior paulista.
Desta maneira o interior de São Paulo ganhou novos povos, novas vilas, distritos e, principalmente, novas forças políticas.
No ano de 1.890 é dada a emancipação político-administrativa à Ibitinga, que significa “terra branca” em tupi-guarani e que está localizada no centro geográfico do estado de São Paulo.
Neste período tão pujante, marca também o fato, ou a lenda urbana, do amor do Cigano Antônio por Rosalina.
Aponta-se a Índia como local de surgimento do povo cigano que é nômade, de espírito livre e monogâmicos. A comunidade cigana se organiza em torno da família. Existe um líder tendo como principal aspecto possuir documento de identidade e também deve ter habilidade para resolver os problemas internos da comunidade.
A falta de oportunidade de emprego pode ter sido uma das causas da veia artística na cultura cigana. Desta maneira as mulheres iniciaram a leitura de mãos, surgindo a fama de serem videntes e místicos.
O Cigano Antônio chegou à Ibitinga com sua tribo, noivo, com compromisso firmado com a família de uma cigana do mesmo clã, que incluía dois dotes de ouro: um no noivado e o outro após o casamento.
Baixaram acampamento na “Estrada Boiadeira”, que ligava Ibitinga á Itápolis. O acampamento estava há cerca de 100 metros do local onde, posteriormente, o cigano Antônio foi assassinado.
O Cigano Antônio era alto, moreno, olhos pretos da cor dos seus cabelos ondulados. De porte galante era comunicativo e muito sedutor. Aparentava 20 e poucos anos e trazia no peito, uma cruz de ouro, para a sua proteção. Confeccionava porta-joias de prata, ouro, metais, diamantes e pedras preciosas. Também domava cavalos.
Em terras ibitinguenses ficou conhecido por Antônio. Em sua lápida está descrito – Antônio Mota. Não sabe se este foi ou não seu verdadeiro nome.
Como ele conheceu a mulher que seria seu amor impossível?
Naquela época era muito comum comitivas ou pessoas pedirem pouso, comida ou água em terras estranhas, tudo era muito distante. Os mesmos eram muito bem recebidos, conforme o costume daquele tempo.
Em uma das andanças do Cigano Antônio pelas terras de Ibitinga fez parada em uma casa desconhecida para pedir água, tanto para ele como para seu cavalo, o Príncipe Negro.
Esta desconhecida residência era a casa de Rosalina, moça esbelta, muito conhecida por sua beleza ímpar! Cabelos longos e loiros, olhos verdes, delicada e vaidosa, pois trazia sempre preso aos cabelos, um botão de rosa vermelha, da cor de seus lábios.
A bela Rosalina havia rompido, recentemente, o compromisso com o seu primeiro namorado, tido por fanfarrão e que não aceitava o fato, propagando aos quatro ventos que, se ela não fosse dele, não seria de mais ninguém”.
Na casa desconhecida quem atendeu ao chamado do Cigano Antônio foi Rosalina. Quando os olhares de ambos se cruzaram foi amor à primeira vista.
Conforme o costume, ela o serviu de água e pediu para que ele fosse embora, mas ele perguntou o seu nome.
Enrubescida e gaguejando, respondeu: - ROOSAALINA!
- Rosalina... rosa linda! Vou chamá-la de Rosalinda, elogiou o cigano.
Nesta troca de olhares e de poucas palavras nascia um sentimento de amor, que para ambos, parecia ser impossível de se tornar realidade.
O que houve após eles se conhecerem?
Ambos tentaram resistir a paixão e o flerte à distância durou por um bom tempo. Mas não resistiram, o amor venceu e passaram a ter encontros amorosos as escondidas, debaixo de uma frondosa paineira.
Para avisá-la que estava no local do encontro ele assobiava por três vezes... ela disfarçava e saia em disparada, rumo à frondosa paineira, com o coração batendo forte.
Mas desde o início do caso, o Cigano Antônio abriu seu coração e contou toda a verdade dos fatos à chefe do seu clã, uma cigana vidente, de enorme sabedoria, que o orientou a deixar a tribo devido ao grande caos que seria criado com a família da cigana, com a qual ele estava comprometido com a palavra de cigano.
Conhecedores do perigo dos encontros as escondidas, eles combinaram uma fuga: Antônio “roubaria” Rosalina que passaria a ser a sua Rosalinda! Antônio retirou do peito a sua cruz de ouro, deu a Rosalina como forma de proteção e ela pegou o botão de rosa vermelho que enfeitava seus cabelos loiros, beijou e ofertou ao cigano, que o colocou apoiado na orelha e partiu.
Rosalina estava tão radiante e feliz que contou o fato, em detalhes, à sua melhor amiga.
Pelo sentimento de inveja dessa tal amiga, o escuso foi descoberto! Ela procurou o ex-namorado de Rosalina e contou, absolutamente tudo, o que Rosalina havia lhe dito em segredo.
Ao saber da história, o ex-namorado de Rosalina enlouqueceu: pelo fato de ser “trocado” por outro e ainda, por um cigano (muito malvisto à época) e também pela jura esplanada por ele mesmo, aos quatro cantos, de que “se ela não fosse dele, não pertenceria a mais ninguém.” O rapaz então, procurou os dois irmãos da cigana que estava prometida para Antônio. Fizeram uma combinação de vigiarem Rosalina e Antônio para constatar se era a realidade.
E assim o fizeram. De longe, viram o encontro de ambos sob a frondosa paineira. Mas o ardiloso ex-namorado de Rosalina convenceu os irmãos ciganos de que ela estava sendo enganada pelo Cigano Antônio, /que se eles agissem naquele momento, poderiam causar grande tumulto na cidade, por conta da família de Rosalina. Os irmãos ciganos também não perdoaram a traição e queriam justiça em sangue. Mas conforme o combinado dos três nada fizeram naquele momento.
Como se deu a fuga?
A fuga de ambos não chegou a acontecer. Na data marcada, o cavalo Príncipe Negro empacou ao pé da subida. Era uma premonição. A experiência como domador fez o cigano Antônio conseguir desempacar o cavalo, que troteou por poucos metros: um tiro de espingarda, certeiro, acertou o coração do cigano que caiu no chão, enquanto Príncipe Negro troteava em disparada rumo ao acampamento do clã.
Quando o povo cigano chegou, o encontrou agonizando e em seguida morreu.
O sangue vermelho do cigano Antônio penetrou na terra branca de Ibitinga, marcando até hoje o local com a “Santa Cruz do Cigano”. Nunca ninguém soube dizer quem disparou o tiro certeiro.
A chefe Cigana deu ordens para o sepultamento do corpo e expulsou toda a família da cigana, com a qual Antônio tinha um compromisso. Após a imediata saída dos familiares em questão, ela resolveu levantar acampamento no mesmo instante. Antes de partirem, até hoje não e sabe pra onde, a Líder Cigana escreveu um bilhete a Rosalina e mandou um cigano, de sua confiança, depositar aos pés da roseira, em frente à casa dela.
Rosalina passou aquela noite toda esperando o amado para a fuga e estava muito agoniada, pois o sol quase nascia e nada da chegada de Antônio. Ela achou o bilhete e ao tomar ciência dos fatos, caiu em um pranto sem fim! A família da moça, por medo de vingarem Rosalina e por vergonha, também foram embora. Rosalina jurou ser pura para toda a família e que somente se entregaria ao eu amado, o Cigano Antônio, após a fuga, que não aconteceu.
O que aconteceu depois da tragédia e da partida as famílias envolvidas?
No local onde ele foi morto, os ciganos fizeram uma pequena cruz e antes de partir, Rosalina levou um buque de rosas vermelhas no local, acompanhada por um familiar.
As ciganas videntes, souberam que o cigano Antônio fazia um porta-joias especial para presentear a sua amada na noite da fuga, mas não deu tempo de terminar. Por esse motivo elas mandaram colocar, ao entorno da cruz, pedrinhas de diamantes e pedregulhos, para que ele o terminasse na eternidade.
Como começaram os milagres do Cigano e as pedrinhas?
A saga do cigano Antônio e da bela Rosalina se deu entre os anos de 1.895 e 1.900. O cemitério Municipal foi fundado no ano de 1.895.
No passado não se construía Capelas ou Cruzes sem motivo algum. A Cruz permanecia no local onde o Cigano Antônio fora morto e a história corria a “boca pequena”, pois tinham medo das famílias envolvidas. O local já era conhecido, mas no ano de 1.918, passou a ser denominado por “Santa Cruz do Cigano”.
A partir de então, começou-se mística fé em se realizar pedidos, inicialmente de amor, ao Cigano Antônio e a colocar 3 pedrinhas, tanto na Santa Cruz, quanto em seu túmulo, localizado no Cemitério Municipal e frequentado até os dias atuais, por populares.
Pessoas acreditam que por gratidão em receber as pedrinhas, o Cigano Antônio as retribui em forma de milagres.
Os pedidos de milagres são relacionados ao amor, a saúde e também ao dinheiro.
“Caminhada Penitencial Rumo à Cruz do Cigano!
Apenas para registro: o ano de 1.993 foi marcado por uma grande seca em Ibitinga, que já era classificada por Estância Turística, desde 1.990. A pedido de fiéis católicos o Padre Marcos Antônio Pião (in memoriam), dentre eles, Itálico Sebastião Moreale, a Paróquia Senhor Bom Jesus, realizou um ensaio de procissão para pedir chuva, com uma Santa Missa na Capela São José e uma “Caminhada Penitencial Luminosa – Rumo à Cruz do Cigano”, cerca de 3,5 km a pé, com fiéis que iluminavam o caminho com velas e tochas.
No ano seguinte a mesma foi repetida, com muitos fiéis, mas sem a presença de Padres. Em 1.995 tornou-se uma espécie de penitência quaresmal, já com a presença de sacerdote e realizada até os dias atuais no município, atraindo centenas e centenas de fiéis católicos. Uma procissão iluminada pelas chamas das velas e das tochas, muito bonita e cheia de fé.
Também, para registro, em 2012, foi instituída a ‘Semana do Cigano de Ibitinga’, através da Lei Municipal nº 3.583/12.
Divulgação: Prefeitura de Ibitinga